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Imagine um comprimido que reproduza os efeitos de exercícios vigorosos no corpo.

Há três anos, Bruce Spiegelman, um ilustre cientista de Harvard, disse ter descoberto um “hormônio da atividade física”, que prometia revelar um novo modo de tratar a obesidade e a diabetes.

Não demorou até que uma firma de capital de risco líder no setor de biotecnologia, a Third Rock Ventures, fizesse uma grande aposta no hormônio. Houve então uma frenética cobertura na imprensa, aclamando o novo medicamento possivelmente milagroso.

Obesidade: inovações estão levando os investidores a encher as empresas farmacêuticas de dinheiro

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Então, por que a Third Rock abandou discretamente o projeto no início deste ano?

A história do hormônio de exercício inerte de Spiegelman, que ele chamou de irisin em homenagem à deusa grega Íris, serve de alerta em uma época de entusiasmo desenfreado no setor de biotecnologia.

Inovações relativas ao câncer e à hepatite C e avanços em terapia genética estão levando os investidores a encher as empresas farmacêuticas de dinheiro.

Mesmo com a recente corrida para venda no mercado, o Nasdaq Biotechnology Index ganhou 28 por cento nos últimos 12 meses, na comparação com a queda de 2,3 por cento registrada pelo S&P 500 Index. No entanto, a maioria das transações de capital de risco no setor de biotecnologia, como aconteceu com essa, fracassa.

Gordura boa

“É raro que os investidores queiram falar sobre o que não deu certo”, disse Bruce Booth, sócio da Atlas Ventures.

Cerca de 55 por cento das transações de capital de risco em biotecnologia não recuperam o investimento inicial, disse Booth, que considera que a taxa de fracasso é o preço para desafiar os limites em busca de inovações bem-sucedidas.

E, se os 45 por cento restantes das transações derem retornos saudáveis, os investidores de risco poderiam sair ganhando mesmo assim, disse ele.

Quase desde o princípio, a propaganda exagerada em torno do irisin foi grande.

O entusiasmo começou quando Spiegelman, de Harvard, publicou um artigo no renomado periódico científico Nature, em 2012, afirmando que tinha descoberto um hormônio que atuava na transformação de gordura branca “má” em gordura marrom, que queima calorias.

A gordura branca é o recheio das barrigas de cerveja e dos braços bamboleantes e a gordura marrom, encontrada em ursos que hibernam e em recém-nascidos, é considerada gordura “boa”.

A Third Rock Ventures, que tem sede em Boston e se especializa em criar empresas em estágios iniciais em áreas de ponta da ciência e do cuidado com a saúde, investiu.

A Third Rock, que administra US$ 1,3 bilhão, montou a Ember Therapeutics em dezembro de 2011, comprometendo US$ 34 milhões, e comprou os direitos do irisin e de outras moléculas.

Spiegelman apareceu como fundador científico e o CEO Lou Tartaglia disse que a Ember esperava testar uma versão do irisin em humanos apenas dois anos depois do lançamento da empresa.

O tamanho do investimento feito pela Third Rock não foi incomum; no mesmo ano, ela lançou a Sage Therapeutics Inc., uma empresa de biotecnologia que lida com transtornos raros do sistema nervoso central, com um financiamento de US$ 35 milhões, e organizou uma arrecadação de fundos de US$ 40 milhões para criar a fabricante de remédios contra o câncer Blueprint Medicines Corp.

Afastamento da Third Rock

Tanto a Sage quanto a Blueprint abriram o capital com sucesso – as ações da Sage mais do que triplicaram desde a abertura, em julho de 2014, e as ações da Blueprint subiram 62 por cento desde que a empresa entrou na bolsa.

Mas a Ember não estava avançando no mesmo ritmo. A Third Rock, que não quis revelar quanto de seu investimento inicial foi gasto antes que a Ember fosse fechada, anunciou em março que tinha vendido parte dos direitos de propriedade intelectual da Ember para a Mariel Therapeutics Inc., de capital fechado.

A Mariel não estava interessada nos direitos do irisin, que foram devolvidos a Harvard.

A Ember interrompeu as operações de laboratório. “Seria necessário um horizonte de tempo maior do que o previsto para desvendar a complexa biologia e os caminhos da gordura marrom”, explicou o sócio da Third Rock, Kevin Starr.

E, no caso do irisin, a Third Rock não estava disposta a esperar mais tempo para começar os testes em humanos.

Esse foi um duro despertar para Spiegelman.

“Você tem dois ou três anos”, disse Spiegelman. “E se o resultado não estiver praticamente pronto para entrar na clínica, você está frito”. (Fonte)